POLÍTICA DO DINHEIRO!
Nos últimos dias muito se falou a respeito da expressão “vergonha nacional”. O Brasil ficou vexado pelo resultado que arquivou os processos deferidos contra o Presidente do Senado: José Sarney. Justamente por situações como a supracitada é que grande parte da população deixa de acreditar nos políticos, mas não na política. Na atualidade os crimes de corrupção e as investidas daqueles que praticam o lobby, visando influenciar as decisões do poder público, vêm à tona mediante a indignação dos mais variados setores da sociedade. De forma silenciosa aparecem vozes visando dignificar a política. O objetivo maior é fazê-la transparente na medida em que há a luta pelo bem comum, a priorização da dignidade humana, a defesa dos direitos da população e a capacidade cristã de ouvir o grito dos pobres.
A princípio precisamos reconhecer que o poder político emana da sociedade. Somos nós que conferimos, outorgamos e legitimamos o mandato de nossos representantes, que vão desde a Presidência da República até a câmara municipal. Assim sendo, a política é falseada quando compreendida em si mesma e é ressuscitada, sobretudo no exercício do poder em vista do serviço público. No entanto, não são poucas as realidades em que o poder político se converte no “partido do dinheiro”. Tudo passa a ter uma cotação, os projetos de lei são comprados, o mandato é penhorado pelas multinacionais, a verdade é encoberta, o nepotismo é proliferado e os interesses do povo são substituídos em proveito próprio.
Deturpar a política é ferir a existência da sociedade, pois em sua gênese estão à honestidade e a ética como princípios fundamentais. Vale-nos, portanto, distinguir que a politicagem é negócio, a política é serviço. Politicagem é sinônima de privilégios, política é antônima de regalias pessoais. Politicagem é falsear as promessas eleitorais, a política é batalhar pela participação de todos na eqüidade pública de enriquecimento do país.
Ademais, precisamos decretar o falecimento deste tipo de governo escondido sob o viés da mesquinhez, da falta de escrúpulos e da desonestidade, que erroneamente chamamos de política. O que vêem até nós, através dos meios de comunicação, é uma fraude da política, uma não-política. Matar o atual modo de fazê-la é anunciar o renascimento da verdadeira política. Nos tempos de outrora e, principalmente nos dias atuais, a política precisa deixar de ser uma profissão, um arrimo familiar, para transformar-se em uma legítima vocação, como nos diz Rubem Alves: “De todas as vocações, a política é a mais nobre […] De todas as profissões, a profissão política é a mais vil”.
É lamentável a decisão de um dito conselho de ética, capaz de arquivar todas as denúncias para salvar uma só pessoa. Acaba-se causando uma crise do institucional que, nos últimos mandatos têm perdido a sua credibilidade com os últimos presidentes do Senado, como por exemplo: Antônio Carlos Magalhães e seus 468 atos secretos, Jader Barbalho e a renúncia para não perder o mandato devido à corrupção, Renan Calheiros e a quebra de decoro parlamentar e agora Sarney.
Por fim, uma política séria necessita de uma boa formação de consciência. Governar não é brincadeira, mas uma causa que modifica histórias e salva vidas. Precisamos sonhar uma “outra sociedade possível” e uma vida “politicamente” justa para todos! Por isso, devemos assumir o Evangelho como um manual do cristão, do político e da libertação no intuito de buscar o Deus revelado por Jesus de Nazaré: o Pai Eterno!
Pe. Robson de Oliveira Pereira, C.Ss.R.
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.